por Paulo Pinheiro
No famoso sermão do Monte, junto à praia da Galiléia, Jesus contou a parábola dos Dois Fundamentos, citada em Mateus 7:24-27. Sobre o cenário daquele dia, prefiro pensar que Jesus falou da base da encosta e fazendo do recinto um anfiteatro. Assim facilitaria a acústica e a multidão assentada mais acima podia entendê-Lo melhor.
O Mestre abordou sobre dois tipos de pessoas, os sábios e os imprudentes. O que diferencia um tipo do outro – na parábola – é a atitude deles para com a construção de uma casa. Um opta pelo alicerce na rocha; o outro prefere construir na areia. O sábio tem em vista a estabilidade; o imprudente, a comodidade.
O que isso tem a ver com casamento?
Você percebeu que, quando duas pessoas amigas se encontram, em geral comentam a respeito do progresso dos filhos, e quase nada tratam sobre o marido ou a mulher? Parece que algumas pessoas guardam dentro delas desilusões sobre a vida marital e sublimam suas esperanças nos filhos.
A parábola de Jesus tem muito a ver com casamento, porque a felicidade de cada uma das pessoas casadas depende em grande medida do modo como estão atuando como construtores de sua “casa” ou casamento. Estão sendo sábias ou imprudentes? Qual tem sido o seu papel como operário na construção do casamento? Nesse caso, a palavra casamento é mais apropriada do que família, porque os filhos crescem e vão embora, e somente o marido e a mulher permanecem (ou assim deveriam) até que a morte os separe.
Três dimensões da construção
O que vai determinar o sucesso de um casal na construção de sua casa é a postura particular de cada um deles em relação ao que está no futuro, no presente, ou que ficou no passado.
Vejamos primeiramente o futuro. Pode-se ter três atitudes:
(1) A expectativa de que vai sair ganhando com o casamento. Essa posição pode gerar frustrações ou revolta contra o parceiro.
(2) A sensação de que vai sair perdendo. Quem tem essa expectativa em relação ao parceiro está mal, porque qualquer esforço ou empreendimento que realizar estará sempre acompanhado do sentimento de insegurança e fracasso.
(3) A disposição para doar. Quando entregamos alguma coisa de livre e espontânea vontade, sentimos a sensação de realização e felicidade. Esse é o modelo que o apóstolo Paulo encontrou em Cristo: “Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a Igreja e a Si mesmo Se entregou por ela” (Efésios 5:25).
Vejamos agora as posições que se pode tomar com as coisas do presente ou com aquilo que está acontecendo no dia-a-dia. Pode-se agir de duas maneiras, enquanto se constrói: realizar uma obra de competição ou de cooperação.
(1) A competição existe quando cada um dos dois quer demonstrar que sabe fazer melhor do que o outro; que erra menos ou que não erra. A competição gera rivalidade e quebra a harmonia daquilo que está sendo feito em conjunto. Imagine um casal pintando uma casa: enquanto um resolve passar na parede tinta azul, o outro sapeca o amarelo; um opta por colocar janelas de metal, e o outro compra as de madeira. A casa pode ficar composta de materiais de qualidade, mas corre o risco de perder em estética e beleza.
( 2) Quando – em vez de competirem – existe cooperação, ambos passam a construir dentro dos mesmos parâmetros. A casa poderá até ficar simples, mas haverá dois fatores favoráveis: a harmonia e o sentimento de participação.
O terceiro tópico diz respeito à atitude que o casal tem para com as coisas que estão comprometidas com o passado. Um dia desses visitei a construção de um amigo e passamos primeiro pelas dependências internas; ele não disse nada. Mas do lado de fora, apontou para uma das paredes do exterior e disse: “Vou mandar derrubar o reboco e fazê-lo de novo.” Aquele proprietário tinha duas posições em relação ao trabalho mal feito: esquecê-lo ou se dispor a reconstruir o reboco. As mesmas alternativas qualquer um de nós pode ter em relação às coisas do passado que não ficaram dentro dos padrões.
(1) Esquecer. Por mais que alguém se esforce, é quase impossível. Como no caso da construção que citamos, todas as vezes que um dos dois bater os olhos no “reboco” mal feito, vai lembrar da bobagem feita no passado.
(2) Reconstruir. Essa atitude pode ser caracterizada pelo verdadeiro sentimento do perdão. Assemelhase à disposição honesta de derrubar o “reboco” mal feito e colocar um material novo no lugar do anterior. Isso sempre dá muito trabalho, mas existe felicidade no ato de reconstruir lado a lado com a pessoa que se ama o que não deu certo no passado.
Duas modalidades de solo
Quando voltamos nossa visão para a parábola, observamos que Jesus também chama a atenção dos ouvintes para os fundamentos da casa. O imprudente constrói sobre a areia e o sábio sobre a rocha. E quando a tempestade sopra, a casa da areia desaba e a da rocha permanece.
O Mestre ensinou que não devemos confundir felicidade com a falsa sensação de bem-estar.
Construir na areia é priorizar a comodidade ou todos os tipos de conforto que uma sociedade consumista tenta fazer as pessoas acreditar serem indispensáveis para a felicidade. A parábola adverte os casais sobre essa questão, mostrando que as coisas superficiais não resistem ao aguaceiro.
Construir na rocha é priorizar a estabilidade. O verdadeiro bem-estar está alicerçado no bom senso dos casais em relação ao futuro, ao presente e ao passado.
Olhar para o futuro com responsabilidade e tendo disposição de entregar-se um ao outro é o primeiro passo de uma relação que tem tudo para durar. E, se por acaso alguma coisa não der certo, o segredo é perdoar e reconstruir com amor aquele pedaço “mal feito”. Vale a pena preservar a harmonia e a beleza do casamento.
Paulo Pinheiro é Editor da Casa Publicadora BrasileiraFonte: Revista Sinais dos Tempos, 1999, Casa Publicadora Brasileira
Fonte: Ministério da Família DSA