O que faz o amor durar? O texto é de Annete Bowen e as dicas que ela
oferece, todas elas aplicadas em seu próprio casamento, são simples,
porém eficientes. Uma leitura que vale apena ser desfrutada até o final.
Seu casamento não merece?
Tenho uma amiga que está se apaixonando. Ela afirma honestamente que o
céu está mais azul; tem notado a suave fragrância das flores ao lado de
sua garagem, embora antes passasse por elas sem parar; e Mozart a leva
às lágrimas. Em resumo, a vida nunca foi tão excitante. “Sou jovem,
novamente!” diz ela de maneira exuberante. Tenho de admitir que o rapaz
deve ser melhor que as clínicas de emagrecimento. Ela já perdeu sete
quilos e está parecendo uma modelo de capa de revista.
Enquanto minha amiga delira com seu novo romance, dei uma investigada
no meu velho amor. Meu marido, Scott, ainda não teve a crise da
meia-idade, mas é candidato a tê-la. As entradas em seu cabelo estão se
acentuando, e já ganhou sete quilos. Antes ele era um corredor de
maratonas, feito só de músculos e nervos, e agora corre somente nos
corredores do hospital. Seu corpo mostra os sinais de longas horas de
trabalho e excesso de açúcar. No entanto, ele ainda consegue me lançar
um cativante olhar do outro lado da mesa do restaurante que me faz
desejar pedir a conta imediatamente e ir direto para casa.
Meu natural brilho já diminuiu um pouquinho depois de 16 anos. Posso
ficar com uma ótima aparência quando julgo necessário, mas não penso
duas vezes em andar pela casa com meu velho abrigo largo e com as meias
de lã cinza do meu marido.
Minha amiga perguntou-me: “O que faz este amor durar?” Eu lhe disse que iria pensar em sua pergunta.
Examinei todas as razões óbvias: dedicação, interesses partilhados,
abnegação, atração física, habilidade de nos comunicarmos; contudo,
encontrei outras. Por exemplo:
DIVERSÃO – Temos momentos engraçados espontâneos. Um
dia, enquanto estamos na mercearia, dividimos a lista e depois saímos
correndo para ver quem pegava as coisas e chegava ao balcão para pagar
primeiro. Fizemos do jantar que nós dois preparamos juntos uma obra de
arte. Mesmo lavar louça juntos pode ser uma coisa fabulosa. Apreciamos o
simples fato de estarmos juntos.
PEQUENAS SURPRESAS – Certa vez, quando cheguei do
trabalho havia um bilhete na porta da frente. Esse bilhete me levou a
outro, e depois a outro, até que – depois de muitos bilhetes cheguei ao
armário embutido. Abri a porta e encontrei Scott segurando um “pote de
ouro” (minha chaleira) e o “tesouro” (um presente embrulhado). Ele ficou
se escondendo ali durante uma hora, pulando de volta para o armário
cada vez que ouvia passos na escada. Desde então, sempre deixo bilhetes
para ele no espelho ou coloco pequenos presentes em seu travesseiro.
COMPREENSÃO – Eu compreendo porque ele tem de jogar
basquete com os amigos regularmente. E ele entende por que, mais ou
menos uma vez ao ano, eu preciso ficar longe da casa, do telefone, das
crianças – e mesmo dele – para encontrar minhas irmãs em algum lugar e
passar alguns dias com elas, descontraidamente.
PARTICIPAÇÃO MÚTUA – Não apenas partilhamos as
contas a pagar, as preocupações do lar, os fardos da paternidade e da
cozinha – partilhamos também ideias. Scott chegou de um congresso médico
e me presenteou com um volumoso clássico histórico. Fiquei feliz ao
ouvi-lo dizer que lera o livro no avião. Esta confissão veio de um homem
que ama ficção científica e histórias policiais. Ele o leu porque
desejava estar apto a partilhar comigo ideias sobre o livro após minha
leitura.
ABERTURA – É confortante saber que posso dizer à
garçonete: “Traga-me apenas um garfo, por favor. Quero só um pedacinho
da sobremesa dele”. Sei que ele permite que eu tire um pedacinho. Se
Scott realmente quer cada pedacinho da sua sobremesa, sei que ele vai
dizer: “Desculpe, mas peça uma para você!” E se ele não quer dividi-la,
não fico ofendida.
PERDÃO – Quando sou muito barulhenta e bagunceira
nas festas e deixo nós dois envergonhados por não saber quando calar a
boca, Scott me perdoa. Ele sabe que não posso resistir a um bom
monopólio da conversa. Eu o perdoei também quando ele chegou em casa e
disse que havia perdido parte de nossas economias na bolsa de valores.
Dei-lhe um abraço e disse bravamente: “Tudo bem. É apenas dinheiro”.
SENSIBILIDADE – Sei como não ficar censurando-o por
chegar tarde quando ele vem do hospital com uma certa expressão nos
olhos; certamente foi um dia pesado. Numa ocasião ele entrou pela porta
com aquela expressão de cansaço nos olhos. Depois de ter passado algum
tempo com as crianças e ter jantado, pergunte-lhe: “Que aconteceu?” Ele
me contou sobre uma senhora de 60 anos que havia tido um derrame. Apesar
de todo o esforço que fizera durante quatro horas, ela ainda estava em
coma.
Quando ele voltou ao quarto do hospital para vê-la, chorou ao ver o
marido daquela senhora, em pé a seu lado, acariciando a mão dela. Scott
chorou novamente ao me dizer que achava que aquela mulher não ia
sobreviver. E como iria ele dizer ao homem que havia sido o esposo dela
por quarenta anos que provavelmente ela nunca se recuperaria?
Fiquei emocionada. Porque ainda há pessoas que estão casadas há quarenta
anos e porque meu marido ainda se comove e se preocupa, mesmo depois de
16 anos de atividades hospitalares.
CONHECIMENTO – Sei que Scott colocará sua roupa para
lavar com vergonha do incômodo que causa toda noite; sei que ele estará
sempre atrasado para a maioria dos compromissos; que deixará o jornal
espalhado pelo chão três vezes em cinco; e que vai comer o último doce
da caixa. Ele sabe que durmo com um travesseiro em cima da cabeça; que
estou sempre nos trancando fora da casa ou do carro; que sempre tenho um
chilique antes das férias; e que eu também vou comer o último doce da
caixa.
Acho que nosso amor perdura porque é confortável. Não, o céu não é
mais azul – é simplesmente de um matiz familiar. Não estamos notando
muitas coisas novas sobre a vida ou sobre o outro, mas gostamos do que
já notamos e tiramos proveito de reaprender isso. A música ainda tem
significado porque conhecemos as harmonias. Não nos sentimos mais
totalmente jovens. Já experimentamos muita coisa que contribuiu para
nosso amadurecimento e sabedoria, que já cobrou seu tributo sobre nossos
corpos, e que criou nossa caixa de memórias entesouradas.
Espero que tenhamos obtido o necessário para fazer nosso amor
perdurar. Quando eu era jovem e noiva, mandei gravar na aliança de Scott
este verso de Robert Browning: “Envelheça comigo!” Estamos seguindo
essas instruções.
(Fonte: Vida e Saúde, 11-1994)
Extraido de: NT