Liderança
significa “conduzir por um caminho, colocando-se à frente. O ato assemelha-se
ao de se aventurar por um lugar em que ninguém esteve antes – uma aventura
que não é para tímidos ou fracos”. (1) A
liderança é um dos fenômenos mais observados e menos entendidos sobre a terra. (2) Mas quando se trata de liderança cristã,
a situação reveste-se de especial significado e responsabilidade. A Bíblia
revela diversos requisitos que deveriam constituir os líderes cristãos. E um
deles é a integridade.
I- A integridade de José
O
testemunho da vida de José nos mostra a possibilidade de o líder manter-se, sob
a graça divina, íntegro, independente da idade e das circunstâncias que o
envolvam.
Na casa dos pais
A família de Jacó passou por
diversas crises: a.rixas entre as irmãs, Léia e Raquel (Gn 29:33; 30:1-8; b.
injustiças (Gn 31:41) e intrigas financeiras (Gn 31:1); c. propensão à
idolatria (Gn 31:34); d. traição, violência, imoralidade e invejas (Gn
34:25-30; 35:22; 37:11). Diante desse contexto, ele manteve-se puro, íntegro e
temente a Deus, mesmo convivendo com pessoas de caráter reprovável.
Na
casa de Potifar
José fora jogado em uma
cisterna pelos seus irmãos (Gn 37:17-24), vendido como escravo aos ismaelitas
(Gn 39;25-28) e revendido a Potifar, comandante da guarda real egípsia (Gn
39:1). José agora era servo (Gn39: 1-2) e superientendente dos bens de Potifar
(Gn 39:4-6). Apesar de ser o agente da prosperidade (Gn 39:3) de Potifar, José
não tirou proveito disso. Ao contrário, permaneceu íntegro, humilde e abnegado
(Gn 39:4).”A fé e integridade de José deveriam, porém, ser experimentadas por
terríveis provas. A esposa de seu senhor esforçou-se por seduzir o jovem a
transgredir a lei de Deus”(3).Porém, fortalecido pela graça e temor de Deus,
José resistiu às investidas do inimigo (Gn 39:12). Ele não transigiu com o
pecado, mas diante do mal recuou com determinação e sabedoria. Ali ficaram consignadas a pureza e a santidade do caráter
de José. É assim que deve agir todo
líder que sofre tentação.
No cárcere
Acusado injustamente, José foi preso por seu próprio senhor (Gn 39:20).
Na cadeia, não demorou para que conquistasse a confiança do carcereiro-chefe
(Gn 39:21-22). Este o colocou como responsável por todos os encarcerados,
inclusive, pelos dois eunucos de Faraó, presos por transgredirem suas ordens.
Ambos, copeiro e padeiro, tiveram um sonho, e José, por providência divina,
deu-lhes a interpretação (Gn 40: 9-19). Isso mostra que quando se tem um
caráter puro e íntegro é possível continuar à disposição de Deus mesmo nas
circunstâncias adversas.
No
palácio
Ao interpretar o sonho de Faraó, José
poderia engrandecer-se. Mas não o fez (Gn 41:39-41). Ele era humilde e soube
esperar o tempo certo e Deus moveu o coração de Faraó para nomeá-lo como
governador do Egito. José governou investido de uma autoridade ímpar. Ele era o
primeiro, abaixo de Faraó, chefe supremo. Em Gn 41:40-44 registra-se seu status
nas palavras de Faraó: “Administrarás a minha casa, e a tua palavra obedecerá
todo o meu povo; somente no trono eu serei maior do que tu. Disse mais Faraó a
José: Vês que te faço autoridade sobre toda a terra do Egito. Então tirou o
Faraó o seu anel de sinete da mão e o pôs na mão de José, fê-lo vestir roupas
de linho fino e lhe pôs ao pescoço um colar de ouro, e fê-lo subir ao seu
segundo carro, e clamavam diante dele: inclinai-vos. Desse modo o constituiu
sobre toda a terra do Egito. Disse ainda Faraó a José: Eu sou Faraó, contudo
sem a tua ordem ninguém levantará mão ou pé em toda a terra do Egito”.Diante de
oportunidades atraentes e promissoras, o líder cristão evita tomar decisões
precipitadas. O melhor que ele pode fazer é confiar integralmente na vontade e
soberania do Senhor. Certamente, José se contentaria apenas com sua liberdade,
mas Deus fez por ele muito mais do que poderia pedir ou pensar.
Diante
de seus irmãos
A liderança exercida por José,
encontra seu clímax ao tratar com seus irmãos, que de maneira extremamente vil
o venderam aos ismaelitas. O momento de dar “o troco”, até por direito, enfim
chegara. Ele, soberano, no controle absoluto da situação, diante de seus irmãos
que sem piedade o traíram, procede de forma incomum. Vemos um homem cheio do
amor divino, reconhecedor da soberania de Deus, demonstrando seu amor,
acompanhado de forte emoção afetuosa: “Eu sou José; vive ainda meu pai? E seus
irmãos não puderam responder, porque ficaram atemorizados perante ele. Disse
José a seus irmãos: Agora, chegai-vos a mim. E chegaram-se. Então disse: Eu sou
José, vosso irmão, a quem vendeste para o Egito. Agora, pois, não vos
entristeçais, nem vos irriteis contra vós mesmos por me haverem vendido para
aqui; porque, para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós...E,
lançando-se ao pescoço de Benjamim, seu irmão, chorou; e, abraçado com ele,
chorou também Benjamim. José beijou a todos os seus irmãos e chorou sobre eles;
depois, seus irmãos falaram com ele” (Gn 45:3-5; 14,15).
A docilidade deste líder expõe
francamente lideranças insensíveis e indiferentes, embriagadas pelo poder. O
apóstolo Pedro exorta os líderes: “Pastoreai o rebanho de Deus que há entre
vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por
sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores do que vos foram
confiados, antes, tornando-vos modelos de rebanho” (1 Pe 5:2,3). Líderes
dominadores são totalmente isentos de amor, piedade e temor de Deus. Em geral,
a aspereza utilizada, decorre de figuras fracas que se sentem ameaçadas,
procurando impor-se pela força. Estas pessoas costumam apresentar indisposição
em ouvir outros, não são ensináveis, e agem sozinhas, como se fossem detentoras
da verdade. Que a figura de José seja inspiração para conduzir ao
arrependimento tais homens enfermos pelo poder.
Conclusão
“A obra de Deus necessita de homens de
elevados padrões e força moral para engajar-se em sua divulgação. Procuram-se
homens cujos corações estejam revigorados com santo fervor, homens de firme
propósito, que não se abalam facilmente, que podem anular todos os interesses
egoístas e dar tudo pela cruz e pela coroa. A causa da verdade presente requer
homens leais ao senso do dever e justiça, cuja integridade moral seja
inabalável e cuja energia seja igual à aberta providência de Deus. Qualificações como estas são mais
valiosas do que riquezas incalculáveis investidas na obra e causa de Deus.
Energia, integridade moral e firme propósito pelo direito são qualidades que
não podem ser compensadas com qualquer quantidade de ouro. Homens dotados com
essas qualificações terão influência em toda a parte. Suas vidas serão mais
poderosas do que a eloquência soberba. Deus chama homens de coração, homens de mente.,
homens de integridade moral a quem Ele possa tornar depositários de Sua
verdade, e que representarão corretamente Seus princípios em sua vida
diária”.(4)
Pr.
Erico Tadeu Xavier
Professor de teologia no no SALT-IAENE, BA
Referências
1.Ramon J. Aldag e Buck Joseph. Liderança e Visão: 25 princípios para
promover a motivação, p. 07.
2.
James MacGregor Burns. Leadership,
p. 02.
3.Ellen G.White. Patriarcas e Profetas, p.148.
4.Ellen G.White. Testemunhos para a Igreja, vol.3, p. 23.